sábado, 10 de novembro de 2018

HISTÓRIAS DA SOFIA - O PREÇO DAS PALAVRAS



No dia 5/10/1975 nasceu um menino chamado André e ele era especial! Com apenas 3 meses disse a sua primeira palavra: “estrela”, com 1 ano disse a sua primeira frase completa e bem-dita: "O Natal está a chegar”, e, com 3 anos, lia textos tão bem lidos que até parecia que estava no 8º ano!

Quando ele tinha seis anos começou a escrever textos de 5 ou 6 páginas sem erros ortográficos.



Mas devido a este talento todo surgiram os inimigos, os invejosos, e os que só pensavam em si.

- Não vales nada! – dizia um.
- Eu sou melhor! – dizia outro.
- Não passas de um bebé que se acha o melhor! – diziam todos.

Mas o André respondia com lágrimas e recusava-se a dizer uma única palavra.
Nessa noite não conseguiu dormir, por isso escreveu no diário como lhe tinha corrido o dia.



Um dia o André fartou-se daquilo e respondeu a gritar:
- Um dia, quando crescer, vou ser tão bom que será a vossa vez de chorar!!
- Ha, Ha! Queres uma aposta, pequenino? – disse o “chefe” do grupo, o Ruben. 

(O Ruben era o rapaz mais rebelde da escola. Tinha chumbado 5 vezes, maltratava toda a gente, menos o grupo, e tinha 3 namoradas: a Joana, a Ema e a Rebeca que eram todas traídas. A Joana com a Júlia, A Ema com a Carol, e a Rebeca com a Matilde, que, por sua vez, as traía também)

- Sim – disse o André com um ar sério – se eu ganhar tu nunca mais me ofendes e finges que não me conheces.
- E, se eu ganhar, tu tens de ser o meu escravo durante 2 anos – disse o Ruben com um sorriso no rosto, convencido de que ia ganhar a aposta.
- Feito! – responderam em coro.



Os dias foram passando e, no Natal, André recebeu uma caixa com três palavras, dada pela avó Maria.

- Estas palavras, André… - disse a avó – são palavras raríssimas, por isso não quero que as uses mas sim que as guardes nesta caixa até ser mesmo necessário.

O André ficou boquiaberto com a prenda e com as palavras: “amor, bondade, ajudar” e, passados alguns minutos lá fechou e guardou a caixa, e a noite continuou. Passado pouco tempo chegou a vez do avô Ricardo. Recebeu o seu primeiro estojo de construções e três palavras: “construir, sonhar, acreditar”.

- Obrigado, avô – disse o André com um sorriso no rosto.

No início o André não sabia o que havia de fazer com aquilo, mas logo havia de pensar em qualquer coisa.

Na manhã seguinte realizou o pedido da avó e trancou as 3 palavras num cofre fechado à chave.

Passaram-se anos, e, duas semanas depois do André fazer 10 anos, o avô morreu. O André ficou destroçado e chorou durante 3 horas!

Depois de chorar lembrou-se do presente que o avô lhe tinha dados há muitos anos atrás e começou a trabalhar num projeto nunca antes visto.

Passaram-se dias, semanas, e meses, até que o projeto finalmente ficou pronto. Como o trabalho foi feito com ferramentas de brincar não ficou como planeado, mas foi suficiente para ele.



O André ficou orgulhoso do seu trabalho e então fez um desenho para o recordar.

Os anos foram passando e o André não conseguia arranjar nenhum emprego. Foi então que se lembrou da aposta que tinha feito em pequeno e ficou aflito. 



O André começou a correr pela casa como se não houvesse amanhã e foi aí que (BUMMMMMMM) bateu contra a prateleira!

Quando abriu os olhos reparou que estava caída no chão uma folha invulgar. Quando lhe pegou reparou que era o desenho do projeto que tinha feito em criança:

Uma fábrica de palavras!



André não pensou duas vezes e correu para o computador para enviar um email a um arquiteto. Mas, uns dias depois, o arquiteto respondeu-lhe que era impossível construir a fábrica pedida.

O André, ao ler este email, ficou muito triste, vazio, e com medo. Decidiu ir ao supermercado comprar uma pizza para tentar encher o vazio dentro dele. Mas, a caminho do supermercado, viu uma fábrica abandonada e saiu do carro como se tivesse visto D. Sebastião a voltar no cavalo branco.

- Já sei!!! – gritou de tanta felicidade.

Entrou no carro a correr e deu meia volta para a loja de ferramentas. Quando regressou à fábrica vinha todo equipado e pôs mãos à obra.

As horas passaram até ficar noite e como ainda faltava um bocado para acabar decidiu dormir na Fábrica e continuar de manhã. 



Mal acordou, o André continuou a trabalhar e, em menos de poucas horas, a fábrica já estava pronta. Mas faltava qualquer coisa…

Onde iria vender tantas palavras?


Faltava uma loja. E lá se pôs a construir a loja.

A loja demorou mais tempo a construir, mas passados alguns meses estava pronta.
Colocou as 3 palavras que a avó Maria lhe tinha dado (amor, bondade, ajudar) no circuito principal para a Fábrica só produzir palavras boas e iniciou a produção.

Passaram-se anos e a loja era um sucesso.

- Quanto custa a palavra “olá”? – dizia um cliente.
- 1, 35 euros! – dizia o André – Leve 3 e leve a palavra “adeus” de graça.
- Quanto custa a palavra “carro”?
- Essa é mais cara. Essa custa 100,39 euros, e tem cuidado com ela porque pode atropelar pessoas! – disse o André.

De repente entrou um rapazinho pequenino que disse assim:

- Quanto custa a palavra “amor”? – perguntou o rapaz – vou levar uma para a minha mamã, para ela saber o quanto eu gosto dela.
- Nesse caso, rapazinho… - respondeu o André com um sorriso no rosto – leva duas de graça, uma para a tua mãe e outra para o teu pai.
- A sério?! Muito obrigado, senhor André! – respondeu muito surpreendido o rapaz.

Tudo estava acorrer bem até que um dia a loja foi assaltada e o resto da aldeia também! 



Roubaram todas as palavras!

A aldeia inteira ficou muda porque não havia palavras. Passaram-se meses e nem o ladrão, nem as palavras deram sinal.

Até que um dia o André ouviu alguém gritar uma palavra… André seguiu o som e foi dar mesmo à frente do ladrão.



O André desmascarou o culpado e era… o Ruben!

- Mas porquê? – conseguiu dizer o André
- Porque tu conseguiste o melhor emprego da cidade e por isso pensei que se eu tivesse todas as palavras do mundo poderia ser muito rico. Tiveste sorte, agora, porque quando abri o saco as palavras “mas” e “porquê” soltaram-se e tu conseguiste dizê-las.

De repente Ruben ajoelhou-se e começou a chorar.

O André era um bom homem. Aproximou-se com um sorriso, colocou uma mão no ombro do pobre ladrão e, com a outra, abriu o saco e todas as palavras voltaram para os seus donos.

André estendeu a mão e disse:

- Toma esta palavra e todas as tuas dificuldades desaparecerão.

Era a palavra “amor”. O Ruben agarrou-a e logo que lhe tocou, num raio de luz, Ruben era um homem novo.

Já não era aquele ladrão com o cabelo rapado e vingativo. Agora era um homem de negócios que trabalhava na melhor empresa da cidade.

A partir desse dia, o Ruben voltou à empresa e o André à loja e ambos viveram felizes para todo o sempre.




FIM

Sofia, 11 anos.





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